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Cefet Lendo
CEFET-MG

Equipe

Última modificação: Quarta-feira, 27 de maio de 2020

Professores que aceitaram o convite e participam do Projeto CEFETLendo:

Profª Ana Elisa Ferreira Ribeiro
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: O Alienista (Machado de Assis)

“Li Machado de Assis pela primeira vez quando estava na escola, claro, algumas décadas atrás. Não me lembro se comecei por Dom Casmurro (e aquela tarefa de fazer um julgamento…) ou se foi por Memórias Pósturmas de Brás Cubas. Passam-se décadas e isso não muda muito. Só sei que achei interessante, soube que era um dos maiores autores de literatura do Brasil e resolvi me aprofundar, por conta própria, porque me interessava muito por ler e escrever. O Alienista, que indico aqui, foi um dos que li na sequência, por interesse espontâneo. Não tinha prova, não tinha trabalho, não tinha nada. E fiquei muito surpresa com a história e com o modo como Machado a conta. Lembrando que, naquela época, não existia internet para baixarmos nada. Arranjei O Alienista emprestado da biblioteca da escola, se não me falha a memória. Quem topar encarar esta minha indicação vai ver por que me lembrei dessa novela (dizem que é isso… menos que um romance, mais que um conto…, é curto, afinal) justo agora. Nessa história, um médico vai tirando as pessoas de circulação… e vejamos como, por que e o que acontece no final. Boa leitura!”

Prof. André Leão Moreira
Câmpus Contagem

Obra indicada: Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis) 

“Os círculos do livro se agitam quando o assunto é o grande Machado. Seria ele o maior escritor brasileiro? Só o entenderia profundamente quem já tenha passado dos 40 anos? Qual sua obra-prima: Memórias póstumas de Brás Cubas ou D. Casmurro?  Ah, e não esquecer a mais urgente de todas: Capitu traiu Bentinho? Sem responder a nenhuma dessa perguntas, respondo a outra: por que ler Machado de Assis ainda hoje? Em nossos tempos de isolamento social, uma resposta atraente não pode ser a boa e velha “obrigação do currículo escolar” ou de que se deva ler o bruxo do Cosme Velho pela cultura variada que representa, pelo ponto alto na história da literatura brasileira ou mesmo para conhecer a vida pública e privada do século XIX na Corte. Tudo verdade, mas não deem ouvidos a isso agora! Então para quê? Penso que ler esses textos é, além do mais, para nós que nunca estivemos tão para dentro de nós mesmos, uma oportunidade excelente de se vislumbrar a vida interior de personagens instigantes, seus dilemas de moralidade, acompanhando-os em seus pensamentos dúbios, que vão em direção às coisas mais inconfessáveis. Coincidentemente, e nada mais atualíssimo, um sujeito conhecido por Quincas Borba (personagem e tanto de Memórias Póstumas e de outro romance com seu próprio nome), certa vez, apresenta a Brás Cubas sua teoria sobre a razão de epidemias no mundo, que eu teria vergonha de adiantar aqui. Resta à leitora prezada ou ao bravo leitor conferir, pois o “Humanitismo” desse sujeito não é para mim. E quem já ousou amar nesta vida pelo menos uma vez vai ser uma boa companhia ao jovem Bentinho, o qual, em uma bela tarde, teve a vida revelada (ou denunciada) para si mesmo. Quem aí se lembra desse momento singular de autodescoberta do mundo? Enfim, Memórias póstumas de Brás Cubas ou D. Casmurro?  Afinal, por que só depois de morto Brás Cubas resolve contar sua história? Como Bentinho se transformou em D. Casmurro? Não me decido por um. Na dúvida, fico com os dois, recomendo-os igualmente, fique você também com os dois.”

Profª Bruna Fontes Ferraz
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Édipo Rei (Sófocles)

“As páginas amareladas da minha edição de Édipo Rei, de Sófocles, confidenciam que muitas mãos já manusearam esse volume que, hoje, apalpo com cuidado. As vozes que se apresentam para mim, ao abri-lo, são muitas, para além da de Sófocles, seu coro e seus personagens. Retomo a tragédia grega, peça teatral escrita por volta de 427 a.C, comovida de antemão: primeiro por reconhecer nas palavras de Machado sua atualidade: nesses dias dramáticos em que vivemos, nosso caminho se faz ao andar; segundo por já conhecer o enredo e todo o funesto destino associado aos Labdácias (os descendentes de Laio, pai de Édipo, embora este passe boa parte do drama acreditando ser filho de Políbio). Tebas, a cidade governada por Édipo, foi abatida por uma peste e, para salvá-la, o oráculo exige que se descubra quem foi o assassino do rei anterior a Édipo e o vingue. A peça teatral – sob muita tensão – se desenrola na dissolução desse enigma, que levará o próprio rei, aquele que intitula a peça, a perceber que ele é o único responsável pelos crimes que afligiam sua cidade. Por isso, condenado pela pena que ele próprio havia decretado, Édipo fura seus olhos, não por não querer se deparar com a realidade e afrontá-la, mas justamente por ter alcançado uma lucidez que lhe permitiu ver além.O fim trágico do livro d e Sófocles, que me deixou espantada quando o li pela primeira vez, ainda menina, ao roubá-lo de minha irmã, hoje se apresenta para mim diverso: contra a atuação terrível do destino (da Moira), ainda impera a vontade do homem, pelo reconhecimento do drama que lhe assola, sem negá-lo, por mais que este lhe inflija um grande sofrimento, fazendo seu próprio caminho dia a dia, golpe a golpe, verso a verso.”

Profª Bruna Gabriela Augusto Marçal Vieira
Câmpus Araxá

Obra indicada: Auto da barca do inferno (Gil Vicente)

“O auto da barca do inferno é uma peça de apenas um ato escrita por Gil Vicente em 1517. Essa peça, que faz parte de uma trilogia produzida pelo autor, foi encenada ao rei Manuel I de Portugal e à Rainha Leanor. O objetivo era divertir a corte, por isso a linguagem poética, em rimas, e o abuso de sátiras, ironia e comédia. O autor não deixa, no entanto, a crítica social de lado e é esse o aspecto que, para mim, mais chama atenção na peça. Volto a ele em breve. A história se passa em um porto onde se encontram duas barcas, uma sob o comando de um anjo, e a outra guiada pelo Diabo, personagem principal da trama. Este é responsável por julgar os mortos que ali chegam e apresentar-lhes seu destino final: o paraíso ou o purgatório. Ao todo, nove pessoas mais um grupo de quatro cavaleiros das cruzadas passam pelo porto ao longo da peça, representando ora sujeitos sociais daquela comunidade (fidalgo, onzeneiro, parvo, sapateiro, Brízida Vaz e judeu) ora instituições de poder (frade, corregedor, procurador e os cavaleiros).No julgamento de cada alma é possível identificar ideologias e crenças da época em que fora escrita e que embasavam a moral e os bons costumes de Portugal na época das grandes navegações. Na inexistência de escolas para as grandes massas, desde a Grécia Antiga, os teatros serviam, além de divertimento, para o ensinamento e o controle social, por isso o tom satírico e moralizante dos autos e das farsas. Apesar de já ter mais de 500 anos, muitas das criticas tecidas por Gil Vicente, infelizmente, ainda são válidas nos dias atuais, mostrando que, além da língua, das crenças e da cultura portuguesa, herdamos também comportamentos que prejudicam o tecido social e que são difíceis de erradicar, tais como a corrupção.Neste momento de crise, em que muito se debate sobre o isolamento social, evidenciando-se interesses econômicos sobre a saúde e o bem-estar da população, é valida a leitura de uma obra tão antiga mas que demonstra e condena desde então a defesa de interesses particulares em detrimento da responsabilidade pública. Além disso, considerando a preparação de nossos alunos para o vestibular, a obra oferece oportunidades variadas de análise do discurso que podem ser positivas aos estudos. Uma delas é a caracterização dos personagens, pela vestimenta e principalmente pelo registro que utilizam ao se expressarem. Gil Vicente é mestre em evidenciar a variedade linguística característica de toda sociedade em função da idade, da profissão, da religião e da classe social. Outra coisa é exatamente a crítica desenvolvida pelo autor. Baseando-se em uma moral cristã, é possível identificar crenças que divergem daquelas de pessoas de outras religiões; ideologias que reprimem e oprimem determinadas existências em nossa sociedade e que hoje já são combatidas; e contradições que revelam uma fé cega a si mesma e aos próprios mandamentos de Cristo. Por fim, acrescento que é uma leitura leve e muito divertida, ótima para distrair, refletir e aprender em tempos de “querentena”.

Prof.  Carlos Eduardo Nunes Garcia
Câmpus Leopoldina

Obra indicada: Dom Casmurro (Machado de Assis)

“A enigmática história do possível triângulo amoroso entre Capitu, Bento e Escobar marcou o meu encontro com a literatura. Já na primeira leitura, pude perceber o quanto as relações humanas são complexas. A cada nova leitura desse clássico brasileiro, tenho um novo encontro com a literatura e me espanto com a minha identificação com algum dos personagens, seja numa atitude seja num pensamento. Às vezes, me pego sendo um Casmurro; noutras, sou um Bentinho; em alguns momentos, sinto-me Capitu em seu silenciamento ou em seus olhos de ressaca.”

Profª Cristiane Felipe Ribeiro de Araújo Cortês
Câmpus Nepomuceno

Obra indicada: Cem anos de solidão (Gabriel García Márquez)

“Considerado um marco da literatura latino-americana, Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, foi publicado pela primeira vez em 1967. O premiado romance do escritor colombiano conta a fantástica saga da família Buendia na imaginária cidade de Macondo. A força e a permanência das mulheres são aspectos interessantes da obra, a meu ver. Úrsula, Amaranta, Rebeca, Pilar… todas perpassam por mim neste período em que estamos confinados e nossas memórias e história paira sobre nós, ora como um fantasma, uma sombra, ora como uma jangada que nos faz viajar no passado enquanto o futuro ainda é um borrão de suposições.

Márquez nos coloca diante da solidão, não apenas dessas mulheres, mas de todo um continente que se vê política e economicamente isolado, do abandono em dias de guerra, da enfermidade e da insônia que atormentam os dias daquelas personagens e os nossos.

Ler Cem anos de solidão é conhecer a América Latina pelo universo fantasioso de Márquez que nos permite repensar na memória, na invenção do passado, na vida e na morte, na permanência e efemeridade das circunstâncias da vida. Vale a leitura. “

Profª Érica Daniela de Araújo

Câmpus Araxá

Obra indicada: O Espelho: esboço de uma nova teoria da alma humana (Machado de Assis)

“Indico a leitura do conto “O Espelho: esboço de uma nova teoria da alma humana”, de Machado de Assis. Esse conto foi publicado pela primeira vez em 8 de setembro de 1882, no Gazeta de Notícias, e republicado na obra Papéis Avulsos no mesmo ano. Nele, Machado, já em sua fase realista, expõe a ambiguidade e a fragilidade humana devido ao conflito entre o ser na vida íntima e a aparência na vida pública. Por meio da metáfora da laranja, o casmurro Jacobina, personagem principal, conta aos seus companheiros um caso de sua vida, ocorrido quando tinha 25 anos, quando foi nomeado alferes da Guarda Nacional. Para iniciar o caso, Jacobina defende a tese de que o homem é composto por duas metades, tal qual o sol, duas almas. O personagem diz:

[…] cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro… Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. […] as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira (ASSIS, 1882, p. 97).
Jacobina salienta que essas metades se alteram ao longo do tempo, mudam de natureza e de estado. Quando foi nomeado alferes, recebendo carinhos e atenções, transformou profundamente sua alma exterior, eliminando o homem, sua alma interior. Estando só, em virtude de um acontecido com sua tia Marcolina, Jacobina passou a lidar com a sua alma interior, evitando se olhar no espelho, com receio de encontrar seu eu interior e não o alferes exterior. Oito dias depois, em plena solidão, olhou-se no espelho, deparando-se com uma imagem “vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra” (1882, p. 101). Resolveu vestir a farda de alferes para encontrar-lhe sua alma exterior. O espelho, nesse enredo, é um objeto muito simbólico, já que devolve ao homem a imagem daquilo que as aparências sociais não mascaram. A alma dupla que nos divide e nos compõe teima em recusar a ausência de sua metade oposta, a alma exterior.
Esse é um conto muito importante, do meu ponto de vista, no contexto atual, 138 anos após sua publicação. Nesse momento de reclusão social, em virtude da pandemia do do coronavírus, lidar com a solidão e com a ausência da alma exterior leva parcela significativa da população ao adoecimento. A necessidade de aparecer na vida pública encontra outros meios de expressão, por exemplo, nas redes sociais, nas quais algumas pessoas se expõem freneticamente, buscando likes e curtidas que demonstrem a avaliação dos outros sobre suas ações, que demonstrem o olhar público sobre o “eu”, que demonstrem o “olhar de fora para dentro”. A questão, muito bem colocada por Machado, refere-se ao conflito vivido por Jacobina quando perde sua alma exterior e perde, consequentemente, sua alma interior. O excesso e a extrema necessidade dessa outra metade, a alma exterior, gera o desequilíbrio, a negativa na tentativa de enfrentar os sentimentos do ser íntimo e da vida íntima. Nesse sentido, olhar para o espelho é não se mascarar, é se significar e se compreender em sua individualidade, sem hipocrisia, “olhar de dentro para fora”.

Profª Fernanda Cristina Santana Dusse
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: A metamorfose (Franz Kafka)

“Numa manhã, ao despertarmos de sonhos inquietos, nós estávamos transformados em gigantescas lesmas.
Eu escolhi iniciar nosso projeto de leitura literária indicando para vocês o livro A metamorfose, de Franz Kafka. Eu me lembro exatamente quando li este romance pela primeira vez: no último ano do ensino fundamental. Mas relê-lo agora foi uma experiência igualmente impactante. Nas duas situações, o que mais se destacou para mim foi a possibilidade de não reconhecermos nossos próprios corpos. Comecei minha fala citando a primeira frase do livro, mas mudando o pronome para o plural e identificando exatamente o bicho: hoje sinto que somos lesmas.
De repente, fomos lembrados que nossos corpos transpiram e por isso carregam água e outros seres vivos. Nosso corpo virou hospedaria para um vírus minúsculo e assustador e nós entendemos que precisamos nos separar uns dos outros para reduzirmos a possibilidade de contaminação.
Quando li este livro na adolescência, eu associava as mudanças do meu corpo e as dificuldades de me relacionar com minha família à situação de Gregor Samsa. Me sentia sozinha e desprezada em casa, mas invertia uma parte importante da trama: naquela época, era eu que batia a porta do quarto.
Agora nós somos estimulados a nos trancarmos em casa. O corpo, a casa, a cidade, o mundo ganha outro sentido, assim como nossos planos e aquilo que considerávamos fundamental: o trabalho? A escola? O dinheiro? A economia? Proponho que leiamos este livro para pensarmos no que sobrevive e no que é possível quando a vida nos exige dar uma guinada. Mas desta vez, há outra diferença fundamental entre a história de Gregor Samsa e a que vivemos: nós não estamos sozinhos. Fomos todos transformados em lesmas, ou em hospedeiros para vírus horríveis, e estamos isolados em nossas casas para nos protegermos coletivamente. Vamos deixar a literatura entrar pela greta desse isolamento e nos aproximarmos através dela. Sinto saudade de vocês, sinto saudade da escola e adoraria que matássemos a saudade conversando sobre este livro.”

Profª Flávia Marina Moreira Ferreira
Câmpus Leopoldina

Obra indicada: A cartomante (Machado de Assis)

“Indico este conto para a leitura durante a quarentena e durante qualquer período do ano! Conto interessante, de fácil leitura e ao mesmo tempo instigante e complexo. Garanto que vocês irão amar! Tive a experiência desta leitura no ano de 2010 e até hoje está entre as minhas obras favoritas. “

Prof. Guilherme Lentz da Silveira Monteiro
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Antígona (Sófocles)

“Antígona, de Sófocles, é uma das mais importantes peças teatrais da história. Produzida no século V a.C., ela compõe um corpo de três tragédias que Sófocles produziu a partir de mitos referentes à família do personagem Édipo. Essas histórias estão na base da cultura ocidental e inspiram um sem-número de outras obras até os nossos dias. Vale a pena ler todas. Antígona especificamente narra os conflitos entre a personagem-título, uma princesa, e seu tio, então rei da cidade-estado de Tebas. Trata-se de uma história sobre a integridade em tempos difíceis, quando aquilo que a lei manda é diferente daquilo que o coração ordena. Os dilemas, as certezas, as indecisões, tudo isso aparece nessa emocionante história, que mostra personagens covardes, que agem pela conveniência, mas também figuras heroicas e dispostas a combater injustiças e arbitrariedades. Antígona nos ensina um pouco sobre o mundo e sobre nossas possibilidades de posicionamento diante dele.”

Prof. João Felipe Alves de Oliveira
Câmpus Leopoldina

Obra indicada: Grandes esperanças (Charles Dickens)

“Acompanhar as desventuras e os aprendizados do sofrido Pip, o órfão que é o protagonista de Grandes Esperanças (1861), é um dos grandes prazeres que a literatura pode proporcionar. Nesse romance, o leitor se depara não somente com Dickens no ápice de sua habilidade narrativa – o senso de aventura e descoberta conjuga-se perfeitamente com os elementos de sátira social e de mistério e com o ângulo psicológico – como também tem diante de si uma galeria de inesquecíveis personagens: a altiva Estela, o amável Joe, o enigmático Magwitch e a atormentada Miss Havisham. Um dos clássicos mundiais do gênero “romance de formação”, Grandes Esperanças, mais de um século e meio após o seu surgimento, mantém-se como uma narrativa de imenso vigor e repleta de surpresas. Para o jovem leitor, a história de Pip é a porta de entrada ideal para o universo vasto e multifacetado de Charles Dickens.”

Profª Joelma Rezende Xavier
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Esaú e Jacó (Machado de Assis)

“Um narrativa de muitas tensões, a começar pelos irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, que se digladiavam desde o ventre da mãe. Pedro, monarquista, admirava Luís XVI. Já Paulo, republicano, admirava as ideias de Robespierre. Rivais em ideologias – talvez não tão distintas entre si – os gêmeos se apaixonaram por uma mesma mulher: a delicada Flora, “flor de uma só manhã”. Bem, não é difícil imaginar que muitos são os conflitos entre os irmãos, em suas dualidades constitutivas, e em sua lealdade ao amor de Flora. É esse um dos motes da narrativa de Esaú e Jacó, penúltimo romance de Machado de Assis, e uma imperdível oportunidade de mergulhar num Brasil de fins de século XIX, entretido com sofisticados bailes e curiosamente enredado nas predições e crendices do Morro do Castelo; um Brasil precariamente desenvolvido nos embates entre a queda da Monarquia e a Proclamação da República, com todas as contradições de uma “nobreza” amofinada nos calores tropicais do Rio de Janeiro. Nessa narrativa, o leitor é tratado como um atento ruminante, detentor de quatro estômagos no cérebro, aptos a passar e a repassar atos, fatos, deduções e cautelosas análises (jamais restritas a situações do século XIX!). Além disso, a partir de uma epígrafe deslocada, somos convidados a embarcar em uma leitura estrategicamente articulada nos lances de um jogo de xadrez. Eis, então, o convite: leiamos Esaú e Jacó! E que venham os bons enxadristas e os seus trebelhos.”

Profª Juliana Costa Moreira
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Quincas Borba (Machado de Assis)

“Indico a leitura da obra “Quincas Borba”, de Machado de Assis, uma vez que propicia uma reflexão sobre o atual momento, em que a ameaça de um vírus, assola o nosso país e o mundo. No trecho abaixo, a personagem, cujo nome intitula o livro, discorre sobre o “bem” e o “mal” da peste:

[…] Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho (ASSIS, 1994, p. 07).

Com essas palavras Quincas apresenta ao seu amigo Rubião, uma filosofia que inventara, o Humanitismo, que se baseia na premissa de que a vida é um campo de batalha, onde só os mais fortes sobrevivem. Essa filosofia, desenvolvida de maneira mais detalhada em Quincas Borba, introduzida por ele mesmo em Memórias Póstumas de Brás Cubas, pode ser interpretada como uma paródia ao darwinismo ou uma caricatura do cientificismo dominante no final do século XIX, período coincidente com o momento em que a publicação da obra. Então, por meio de uma filosofia fictícia ou inventada, Machado de Assis, de forma indireta, produz uma crítica a um discurso que sustenta desigualdades sociais.

Com o intuito de ilustrar a filosofia que havia criado, um dos exemplos que a personagem Quincas apresenta é a de duas tribos famintas diante de um campo de batatas, que são suficientes apenas para alimentar um dos grupos, que assim adquire forças para transpor a montanha e chegar a um campo onde há uma grande quantidade de batatas. Por outro lado, supõe que se as duas tribos dividissem as batatas do campo pacificamente, nenhuma delas poderiam se nutrir e morreriam de inanição. Como Quincas conclui: “A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação”.  (ASSIS, 1994, p.04).

Ironicamente, a guerra e a discórdia e a peste são encaradas como fatos naturais e convenientes para a evolução do homem, como se as adversidades fossem necessárias à estrutura do mundo. Seguindo esta linha de raciocínio, apenas uma das tribos, os vencedores, podem desfrutar das batatas no campo de guerra, o que demostra que, na luta pela sobrevivência, quem vence é o mais forte. O exemplo do campo de batatas revela, portanto que “o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas” (ASSIS, 1994, p.06).

Assis, Machado de. Obra Completa. vol. I, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do Acesso em 2 abr. 2020.”

Profª Keilla Conceicao Petrin Grande

Câmpus Varginha

Obra indicada: Helena (Machado de Assis)

“Helena” é considerado um livro da chamada primeira fase de Machado de Assis. Quando o li, ainda bem jovem, por volta dos meus 13 anos, eu nem tinha noção das questões relacionadas à história e teoria da literatura. Mas fato é que o livro me encantou: primeiro, pela personagem que dá nome à obra: frágil e corajosa ao mesmo tempo; delicada e tenaz até quando foi-lhe possível pelas circunstâncias. Embora o livro apresente um pouco de maniqueísmo e algumas idealizações comuns ao romantismo, isso não impediu-me de sentir aquela típica afeição que desenvolvemos pelos heróis ficcionais: Helena, Estácio, Úrsula… A trama é instigante porque, pouco a pouco, vão-se revelando segredos que podem mudar todo o rumo da história.. ou não. Além do mais, como já era de se esperar de uma obra machadiana, o livro desvela como somos impedidos de viver nossos melhores sentimentos por força das aparências e convenções sociais.”

Profª Luciana Aparecida Silva de Azeredo
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: The adventures of Tom Sawyer (Mark Twain)

“O livro The Adventures of Tom Sawyer, escrito por Mark Twain (1835-1910), me é muito caro não apenas porque é um clássico da literatura americana, mas porque foi o primeiro livro que li em inglês (uma versão adaptada) quando estava no ensino médio, um empréstimo de minha professora na época já que, no interior, quase não tínhamos acesso a livros em línguas estrangeiras. Tom mora com a tia às margens do rio Mississipi, na sociedade sulista dos Estados Unidos, na época da escravidão. Trata-se de um relato das aventuras, travessuras e descobertas de Tom e de seu amigo Huckleberry Finn (personagem principal de outra obra do autor). O livro exerceu e exerce muita influência na literatura, em especial nos países anglófonos, e é citado inúmeras vezes em campos que vão da música às histórias em quadrinho, em filmes e séries, como The Walking Dead e The Big Bang Theory etc. Faz-nos refletir sobre vários temas da vida, como racismo, preconceito etc. Worth reading it!”

Prof. Marcos Racilan Andrade
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Frankenstein; or, The Modern Prometheus (Mary Shelley)

 “Frankenstein; or, The Modern Prometheus, publicado pela escritora inglesa Mary Shelley em 1818, quando ela tinha apenas 20 anos. O romance gótico chamou minha atenção por causa das cirscunstâncias de sua escrita. Dizem os historiadores que Mary Shelley o escreveu no verão de 1816 em uma competição entre amigos sobre quem escreveria a melhor estória de fantasmas. Ela ganhou! Que tal conhecer esse livro incrível e ainda praticar o seu inglês!? O link abaixo leva à pagina do portal do Project Gutenberg onde você vai encontrar a obra para leitor .EPUB ou .MOBI (app Kindle), além de áudios com os quais você pode ouvir a estória.”

Profª Maria do Rosário Alves Pereira
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Ciranda de pedra (Lygia Fagundes Telles)

“Um livro que marcou muito minha formação como pessoa foi Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles. A primeira vez em que o li eu tinha 11 anos e fiquei profundamente comovida pela história de Virgínia, a quem acompanhamos em meio a seus dramas familiares desde a infância. É uma obra densa, profunda, reflexiva, e ao mesmo tempo nos identificamos com a personagem e as reviravoltas que a trama dá. Vale a leitura deste livro sensacional de uma escritora igualmente sensacional por desvelar os dramas humanos como ninguém.”

Profª Mariana Jafet Cestari
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Brás, Bexiga e Barra Funda (Alcântara Machado)

“O livro reúne contos que retratam São Paulo sob a perspectiva dos imigrantes italianos na década de 1920. Humor e emoção são garantidos. Lembro de Gaetaninho: quantos sonhos pode(m) sonhar um menino? Como é bom poder curtir a rua! Mesmo sabendo que se trata de uma interpretação anacrônica, a personagem desse menino para mim é um pouco meu falecido avô paterno e meu querido pai, em suas histórias sobre o bonde, o futebol de várzea, o vendedor de linguiça, as casas de massa, os jogos do Palmeiras… Crescido em um bairro operário com forte presença italiana, narrativas sobre imigrantes em São Paulo sempre interessaram a meu pai, quem me indicou o livro. Ou seja, Brás, Bexiga e Barra Funda integra o conjunto de minhas primeiras leituras afetivas – uma espécie de lista paralela aos títulos exigidos pela escola.”

Profª Natália Mariloli Santos Giarola Castro  
Câmpus Divinópolis

Obra indicada: Macbeth (William Shakespeare)

“Eu escolhi o livro Macbeth de William Shakespeare, pois além de ser um clássico da literatura inglesa, ele nos permite refletir sobre a questão do comportamento feminino. Por exemplo, uma de suas personagens femininas mais intrigante é a Senhora Macbeth, que chama a atenção do leitor por ser sedutora, cruel e perversa, diferentemente dos esteriótipos femininos daquela época. Senhora Macbeth manipula seu esposo a fim de conseguir poder e o reino do Rei Duncan. Portanto, por meio dessa personagem, o leitor perceberá que a mulher pode desenvolver qualquer papel na sociedade e ser quem ela quiser, até mesmo alguém ambiciosa e cruel, deixando de lado os esteriótipos de inferior, sentimental, cuidadosa e amorosa. Este foi um dos meus livros favoritos durante a graduação, espero que gostem! Boa leitura!”

Profª Natália Moreira Tosatti
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Cândido ou o Otimismo (Voltaire)

“Cândido ou o Otimismo é um conto filosófico, escrito por Voltaire, em 1759. Nessa obra, o filósofo iluminista, de forma afiada, questiona a visão defendida por Leibniz, filósofo alemão, de que “nosso universo é, num sentido restrito, o melhor
de todos os mundos possíveis.”. Avesso a essa ideia, Voltaire nos apresenta Cândido, um jovem que vive em um paraíso e lá recebe de seu mestre Pangloss lições de otimismo. Pangloss, seguidor de Leibniz, repassava a seu aluno o ensinamento de que “vivemos no melhor dos mundos possíveis”. Essa frase torna-se o mantra de Cândido. Porém, a personagem é retirada de seu paraíso e testemunha situações de dificuldades, injustiças e violências. Fiel aos ensinamentos, Cândido, mesmo diante da crueldade, segue repetindo: “tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”. Porém, essas experiências geram mudanças na personagem. De forma satírica, a obra (que chegou a ser proibida) nos traz desconforto e questionamentos: E quando a realidade nos encontra? Qual é a visão de otimismo criticada por Voltaire? Seria Cândido otimista, ingênuo, alienado? Qual é o papel do conhecimento na nossa vida? Que reações e sentimentos esse conto nos provoca? Cândido é bastante interessante. Vale a pena conhecê-lo.”

Profª Patrícia Rodrigues Tanuri Baptista 
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra indicada: Teoria Geral do Esquecimento (José Eduardo Agualusa)

“Esse livro é um dos melhores romances do autor angolano José Eduardo Agualusa. Para mim, sua importância está no fato de promover uma reflexão sobre “o medo do outro”, sensação muito semelhante (guardadas as devidas proporções) a que estamos expostos nesse momento tão delicado, em que somos obrigados a nos isolar. A narrativa põe em cena o drama vivido por uma mulher que se isola do convívio com a sociedade, por quase 30 anos, construindo uma parede que separa seu apartamento do resto do prédio onde vive. Assim, a trama nos faz refletir sobre a atmosfera do isolamento social como uma forma de proteção, de preservação da vida, que, na trama, é uma escolha da protagonista e, hoje, é uma ação compulsória a que o mundo está submetido.”

Prof. Sérgio Roberto Gomide Filho
Câmpus Nova Suíça – Belo Horizonte

Obra  indicada: Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)

Juntemos os ingredientes: um dos autores mais importantes e enigmáticos da literatura de todos os tempos. Uma obra visceral, biográfica, mas “sem fatos”, escrita ao longo de toda a vida e, mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, fragmentada e incompleta, publicada quase 50 anos após a morte do autor. O resultado é um livro inquietante e perturbador: O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa. Ou Bernardo Soares? Não sabemos. Pessoa disse certa vez que “vivem em nós inúmeros” e essa obra é um ótimo exemplo disso. Dois trechos dos meus favoritos para os dias atuais:
“Toda a vida é um sonho. Ninguém sabe o que faz, ninguém sabe o que quer, ninguém sabe o que sabe. Dormimos a vida, eternas crianças do Destino. Por isso sinto, se penso com esta sensação, uma ternura informe e imensa por toda a humanidade infantil, por toda a vida social dormente, por todos, por tudo.”
“De repente, como se um destino médico me houvesse operado de uma cegueira antiga com grandes resultados súbitos, ergo a cabeça, da minha vida anónima, para o conhecimento claro de como existo. E vejo que tudo quanto tenho feito, tudo quanto tenho pensado, tudo quanto tenho sido, é uma espécie de engano e de loucura”. 

Profª Suelen Érica Costa da Silva
Câmpus Contagem

Obra indicada: Memórias: o Cavaleiro da Triste Figura (Miguel de Cervantes Saavedra)

Realizei a leitura de D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, quando cursava a antiga 8ª série – hoje, o chamado 9º ano. Escrita a mais de 400 anos, D. Quixote – obra que acreditam ser a mais traduzida no mundo depois da Bíblia – é um dos tesouros da minha biblioteca particular porque o Cavaleiro da Triste Figura, de forma singular, luta para combater injustiças e, por isso, enfrenta situações penosas. A obra apresenta-nos, portanto, uma temática que é transcendente, atual e urgente para humanidade. Assim, Quixote faz parte da minha memória literária e da memória de leitores diversos. O escritor argentino, Jorge Luiz Borges, concorda com o meu depoimento: “Poderiam perder-se todos os exemplares do Quixote, (…) mas a figura de Dom Quixote já é parte da memória da humanidade”. Ler, reler e (re)construir essa memória é o convite que faço para vocês, jovens leitores, pois, nas palavras do Cavaleiro “Quem lê muito (…), muito vê e muito sabe”.